Waraná, guaraná-da-amazônia, guaranaina, narana, cupana, guanáyuba, varaná, paulínia, narazazeiro, guaraná-uva, naranajeiro, guaraná-cipó, naraná ou guaranaúva. Encontrada no Brasil, Peru, Colômbia, Guiana e Venezuela, é uma das plantas mais representativas da flora amazônica. Seu cultivo remonta a relatos datados da segunda metade do século XVII, que tem nos Sateré-Mawé, habitantes da região do rio Madeira- Tapajós, protagonistas da transformação de uma organização social baseada na vingança para uma que valoriza o encontro, o trabalho coletivo e do diálogo respeitoso e ponderado.
A antropóloga Alba Lucy Giraldo Figueroa resume a importância simbólica do guaraná para os Sateré-Mawé ao narrar seu mito originário como a perda de uma criança e do luto de uma mãe que ao enterrar o olho direito do filho determina o nascimento do guaranazeiro dentre o de muitos outros seres: “ O ápice dramático se inicia com a situação de aprisionamento do filho da irmã […] e continua com a determinação de uma mulher, a sua genitora, a quem cabe o papel de realizar a transição de uma para outra ordem de coisas e relações” (FIGUEROA, 2016).
Os agricultores da região dos Maués, referência na produção de waraná buscam a manutenção de formas responsáveis de cultivo, em disputa com as exigências de uma produção em escala muito maior; desmatamento e garimpos ilegais; e o enfraquecimento das agências de regulação ambiental.
Após um conturbado processo de demarcação, os Sateré-Mawé colocaram em prática ao longo dos anos 1990 um projeto de autodeterminação e independência econômica que aposta na valorização de seu patrimônio material e imaterial – através de certificações de origem do guaraná, e de protocolos como o “Protocolo de produção do Pão de Waraná – denominação de Origem Protegida” o povo Sateré-Mawé administra a TI utilizando o comércio no mercado internacional como estratégia.
O que se evidencia é o paradigma da organização social balizado pelo cultivo do guaraná, manutenção das práticas de cultivo tradicionais e de manejo regenerativo da terra e a retomada de um conhecimento lentamente expropriado pelas cadeias de produção industriais.
Assim, falar da memória da biodiversidade brasileira é uma forma de resgate de visões de mundo e formas de relação invisibilizadas pelas maneiras como o Guaraná é transformado em ícone de brasilidade, dissociado de seu papel ontológico para os povos originários, o que também reafirma a importância das demarcações e proteção dos território indígenas.

