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  • VIII CONGRESSO DE ESTUDOS POSCOLONIAIS IX JORNADAS DE FEMINISMO POSCOLONIAL “O FUTURO DO FIM DO MUNDO. PENSAMENTO SELVAGEM, MEMÓRIAS E ARTIVISMOS DESDE O SUL” (2023)

    Com mais de 250 participantes de diversos países, incluindo Brasil, Colômbia, Cuba, Uruguai, Argentina, Chile, Estados Unidos, Espanha, intelectuais, artistas, ativistas, poetas, 92 organizações e universidades da América Latina, conforme expressão de Lélia Gonzalez, comunidade LGBTQI+, povos originários de Abya Yala (Mapuche e Yanakuna) e comunidades afrodescendentes da América Latina (Lélia Gonzalez), ocorreu nos dias 6 e 7 de dezembro de 2023, o VIII CONGRESSO DE ESTUDOS POSCOLONIAIS IX JORNADAS DE FEMINISMO POSCOLONIAL “O FUTURO DO FIM DO MUNDO. PENSAMENTO SELVAGEM, MEMÓRIAS E ARTIVISMOS DESDE O SUL”. A 40 anos da democracia na Argentina e 50 anos do golpe de estado no Chile e Uruguai.

    O evento acadêmico internacional, fundado em 2010 com as I Jornadas Feministas Poscoloniais, manteve sua sede no Auditório Lectura Mundi, Campus Miguelete da Universidade Nacional de San Martín (UNSAM), Buenos Aires, Argentina. Organizado pelo Núcleo NuSur de estudos poscoloniais, performances, identidades afrodiaspóricas e feminismos da Escuela Interdisciplinaria de Altos Estudos Sociais da UNSAM, a Rede de Feminismos Poscoloniais desde o Sul, o Grupo de Trabalho Epistemologias do Sul, contou com o apoio da Agência Nacional de Promoção da Investigação, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e o Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais e o Programa Sul-Sul de CLACSO.

    Em diálogo com o projeto Poéticas do Mar/Vozes do Sul & Diálogos Transatlânticos. Plataforma Mundial para Descolonizar as Artes & Cosmopolíticas/Mar Poéticas/Vozes do Sul & Diálogos Transatlânticos. Plataforma Mundial para Descolonizar as Artes & Cosmopolíticas; o Projeto PIP CONICET (Nº 012936/21) “As tramas do artivismo: cartografias de preexistências frente ao ecocídio” (Sede EIDAES-UNSAM), e uma extensa rede de instituições como:

    • Cátedra UNESCO de Gênero, Diversidade Cultural e Fronteiras (UFGDS, Brasil);
    • II Colóquio Lélia Gonzalez: Psicanálise e Amefricanidade, Rede de Pesquisa e Formação Lélia Gonzalez. Bases para uma Psicanálise Contra-Colonial, Brasil – “As Formações do Inconsciente Racializado: Lélia Gonzalez e o Horizonte Político da Amefricanidade”;
    • UNIRIO (Brasil);
    • UFRJ (Brasil);
    • Rede de Violências e Subjetividades em Contextos de Vulnerabilização. Necropolítica e Lutos. Programa de Interesse Institucional em Violência e Sociedade, Universidade da Costa Rica;
    • Universidade Federal de Integração Latino-Americana (UNILA, Brasil);
    • Universidade Autônoma Metropolitana-Xochimilco, México;
    • Kenyon College (EUA);
    • Universidade Nacional de Buenos Aires (Faculdade de Ciências Sociais e Faculdade de Filosofia e Letras);
    • Cátedra de Pensamento Latino-Americano, Centro de Investigaciones “María Saleme de Burnichon” (C.I.F.F. y H.) | F.F. y H (Universidade Nacional de Córdoba);
    • Universidade Nacional de Catamarca;
    • Universidade Nacional de Cuyo;
    • Universidade Nacional da Patagônia San Juan Bosco;
    • Universidade Gral Sarmiento.

    Entrelaçando as apresentações com performances e artivismo, “Vidas negras, indígenas, disidentes, trans feministas, importam”, foram criados espaços diversos de performances e artivismo. A conferência de encerramento e o ato de encerramento – sob responsabilidade da diretora do Congresso, Dra. Karina Bidaseca, e coordenadora do Programa Sul-Sul de CLACSO, e do Diretor do Área de Investigaciones de CLACSO, Dr. Pablo Vommaro – foram transmitidos pela CLACSO TV e Facebook. Com mais de 500 visualizações e postagens, todas as atividades foram transmitidas AO VIVO pelo Instagram @jornadasfeminismoposcolonial e @nusur e YouTube da Rede https://www.youtube.com/channel/UCMHpmi5B2ZHLPYBDx2NsCVQ

    A abertura do congresso foi uma leitura de ensaio poético, intitulada “Somos as netas de todas as machis que não puderam queimar”. O texto, lido em mapuzungun e castelhano, foi apresentado pela escritora mapuche Liliana Ancalao Meli (à esquerda).

    A conferência de encerramento intitulou-se: “Expressões de Feminismo Espiritual: Cuidado da Vida nos Territórios por meio das Culturas e Saberes Ancestrais realizados por Mulheres Indígenas na Colômbia”. Foi ministrada pela Dra. Adriana Anacona Muñoz (Universidade do Vale, Colômbia), mulher indígena do povo Yanakuna, Colômbia.

    A conferência foi transmitida AO VIVO pela CLACSO TV e pelo Facebook. Assista à conferência de encerramento aqui.

    Contamos com a participação das Mulheres Indígenas do Terceiro Malón da Paz, Jujuy, Argentina. Apresentaram o reclamo pelo direito aos seus territórios ancestrais. Em sintonia com o II Colóquio Lélia Gonzalez Psicanálise e Amefricanidade, Rede de Pesquisa e Formação Lélia Gonzalez. Bases para uma Psicanálise Contracolonial, Brasil, realizado de 1 a 6 de dezembro em Brasília, São Paulo, Recife e Buenos Aires: As Formações do Inconsciente Racializado: Lélia Gonzalez e o Horizonte Político da Amefricanidade.

    Homenagens a ancestrais e ancestrais: Lélia González (Brasil) em sintonia com o Colóquio; Nêgo Bispo (Brasil); Maria Remedios de Valle (Argentina); Enrique Dussel (Argentina-México); Apresentação de livros e revistas; Obra musical “O Olhar do Jaguari: Uma Abordagem Sonora” por Matías I. Lustman, músico e compositor experimental, e o encerramento musical do Ensamble Axolote.

    Desenvolvemos Ações Ecopoéticas – 3ª edição da Escola de Artivismo Decolonial do Sul com o apoio da Cátedra UNESCO/UFGD; Recital de Poesia. Um Quarto Improprío com a participação de Liliana Ancalao, Leticia Hernando e Alejandra Correa.

    Nos dois dias, diversas Ações Ecopoéticas/Talleres da 3ª Edição da Escola de Artivismo Decolonial do Sul foram desenvolvidas com o apoio da Cátedra UNESCO/UFGD. Em 6 de dezembro, realizou-se o TALLER CORPOGRAFÍAS E MEMÓRIA DO EXÍLIO. Vamos Descolonizar Nossos Corpos!

    A partir de uma perspectiva feminista e disidente, Karina Bidaseca (AR) Curadora da obra de Ana Mendieta (NuSUR/Professora Titular. Universidade de Buenos Aires/Universidade de San Martín, pesquisadora principal do CONICET); Adriana Anacona Muñoz (CO) Líder indígena Povo Yanakuna (Prof. Universidade do Vale), com a facilitação de Rocío Sosa (AR) Prof. UNLP/NusUR, María Clara Cavalcanti (UFRJ, Brasil) e Hariagi Borba Nunes (UFGRS, Brasil), revolucionaram sensibilidades por meio de práticas artísticas situadas entre os anos 1960 e a atualidade de artistas chilenos, brasileiros, colombianos e cubanos.

    É um ato político e deliberado de deslocamento, de abertura do tempo e do espaço, quando nos deixamos “afetar” pela arte dos anos setenta e oitenta: os Quipus de Cecilia Vicuña (Chile); o deambular ambulatório de Lygya Clark; Parangolés, Bólides, Psicofotos de Hélio Oiticica (ambos do Brasil); as Silhuetas de Fogo da magmática Ana Mendieta (Cuba); os tecidos das mulheres Yanakuna, entre outros. Cada taller abordou as revoluções sensoriais que cercam as vívidas reflexões dos artistas sobre conceitos poéticos.

    Para conferir mais registros acesse a conta do Instagram: @escuela_de_artividades_del_sur

    Quipus Menstrual. Obra coletiva realizada com papel crepe. Buenos Aires, 6/12/2023.
    Quipus Menstrual. Obra coletiva realizada com papel crepe. Buenos Aires, 6/12/2023.

    O segundo TALLER CORPOGRAFÍAS & PERFORMANCES: ¡A DESCOLONIZAR NOSSSO CORPOS! concentrou-se nos anos 1960-1980, período de intensa experimentação e revolução sensível nas transformações do arte e campo cultural brasileiro, chileno, colombiano, mexicano e argentino.

    Nos EUA, a presença de artistas de cor na Galeria A.I.R (Artistas em Residência) em Wooster Street questionou o cânone. A Revolução Cubana (1959) e as guerras de independência e descolonização das antigas colônias africanas (Argélia, 1954-62) exploraram as formas do político na estética e ética do cotidiano. Hélio Oiticica denominou “Subterrânia” (1969) o “underground brasileiro e latino-americano que abraçava as condições ‘sub’ de estar localizado abaixo do equador.” Os Parangolés (1964) de Oiticica apresentaram capas e estandartes de samba da favela de Mangueira, no Rio de Janeiro. Nesse ano, ocorreu o golpe de Estado cívico-militar no Brasil, que se prolongou até 1985. Seguiram-se os golpes de Estado na Argentina (1966), Bolívia (1971), Uruguai e Chile (1973) e, a partir de 1976, a ditadura cívico-militar na Argentina se prolongou até 1983. Contexto que forçou artistas, pensadores, intelectuais, sindicalistas, estudantes, professores, ativistas e muitos dos 30 mil desaparecidos pelo regime militar a se exilarem.

    Nos interessa trabalhar as polinizações cruzadas entre “legados pós-neoconcretos e pedagogias descoloniais”, os exílios e interstícios, as interseções entre arte, ativismos e feminismos descoloniais hoje, em meio a discursos negacionistas e fascistas que buscam instalar uma novo ordem social de disciplinamento dos corpos.

    Parangolé Coletivo. Dança com Molas Africanas. Buenos Aires, 7/12/2023. Fotografia: Ludmila Lustman.

    Taller de Chakana Metodológica. Espiritualidade a cargo da Dra. Adriana Anacona Muñoz, pueblo Yanakuna, Colômbia.
    Chakana Espiritual, obra coletiva. Realizada sobre uma mola moçambicana. Com frutos, lãs, sementes, aromáticas, velas. 7 de dezembro de 2023.

    A pergunta que permeou os diferentes espaços de palavra e sessões públicas “CorpoCosmopolíticas” foi: “Que sociologia, que antropologia, que filosofia, deveríamos pensar-inventar para o futuro do fim do mundo?”

    O conceito de “Futuro Ancestral” do pensador, filósofo e escritor indígena Ailton Krenak (2022) expressa que a história hegemônica “serve para nos fazer renunciar aos nossos sonhos, e dentro dos nossos sonhos estão as memórias da terra e dos nossos antepassados” (p. 37). A vibração que provoca esse conceito é profundamente inspiradora. Nos devolve, desde seu pensamento “selvagem” (que não é o pensamento dos selvagens, como explica o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro), uma alternativa à visão antropocêntrica, necrocapitalista e ocidental do mundo. Para o líder Yanomami Davi Kopenawa, são os Xapiri, os espíritos, os únicos que podem proteger o planeta azul profundamente danificado.

    “Como habitar este planeta com responsabilidade?” pergunta-se a bióloga feminista cyborg Donna Haraway em seus livros, presente nos debates como sustentos epistêmicos críticos indispensáveis para enfrentar o ecocídio, quando a artista cubana Ana Mendieta já nos legou em suas performances, fundindo seu corpo na natureza.

    O título do Congresso é homônimo ao do livro que funda a Coleção Pensamento Selvagem da Editorial El Mismo Mar. Nasceu inspirado na conversa mantida em setembro de 2022 com o pensador indígena Ailton Krenak e a diretora do Congresso/Jornadas Karina Bidaseca. Seu ponto de partida é o oxímoron que surge da ideia de pensar juntxs o futuro do fim do mundo.

    Além das participações, houve:
    •⁠ ⁠Um stand de livros de editoras feministas independentes e autogestivas.
    •⁠ ⁠Apresentação do filme LEGERIN, EM BUSCA DE ALINA. SÍMBOLO DE LUTA DAS MULHERES CURDAS. Dir. María Laura Vásquez e produtora: Valeria Roig.

    Apresentação dos seguintes livros e revistas:

    •⁠ ⁠”O Futuro do Fim do Mundo. Vozes e textos de Jacque Andarahú, Karina Bidaseca, Matías Lustman, Rocío Sosa”, Buenos Aires, Ed. El Mismo Mar, 2023.

    •⁠ ⁠”Frantz Fanon e Édouard Glissant. Onze ensaios desde o sul”. Ed. CLACSO-Qellqasqa, Mendoza, 2022. Alejandro De Oto e Karina Bidaseca (Org.) .) https://biblioteca-repositorio.clacso.edu.ar/handle/CLACSO/171370

    •⁠ ⁠Lélia Gonzalez. Por um Feminismo Americano. K. Bidaseca e Raisa Inôcencio (coord.) Buenos Aires. Ed. El Mismo Mar. 2022.

    •⁠ ⁠”Condição Pós-Colonial e Racialização: Uma Proposta Coletiva, Transdisciplinar e Situada”. Laura Catelli, Patricio Lepe Carrión e Manuela Rodríguez (eds.). Mendoza, Qellqasqa Editorial. 2021.

    •⁠ ⁠”Os Glaciares Sentem (e Sangram). 50 + 40. Cecilia Vicuña. Artistas pela Memória em Wallmapu”, Karina Bidaseca. Buenos Aires. Ed. El Mismo Mar. 2023.

    •⁠ ⁠Do Discurso ao Acuerpamento. Cooperação Feminista a Duas Margens. Ed. El Mismo Mar e Oficina de Cooperação ao Desenvolvimento e Solidariedade (OCDS) Universidade das Ilhas Baleares. No âmbito da campanha “Defendendo Mulheres Defensoras de Direitos #JuntasNosProtegemos”.

    •⁠ ⁠Revista Interstícios da Política e da Cultura. UNC, Argentina. https://revistas.unc.edu.ar/index.php/intersticios

    •⁠ ⁠Revista Estudos Pós-Humanos.

    Agradecemos ao Comitê Acadêmico Internacional e ao Comitê Organizador.

    ● Núcleo NuSur – Núcleo Sul-Sul de Estudos Pós-Coloniais, Identidades Afrodiaspóricas e Feminismos (EIDAES/Universidade Nacional de San Martín)

    ● Cátedra Sociologia e Estudos Pós-Coloniais. FSOC-UBA

    ● Programa Sul-Sul CLACSO.

    ● Grupo de Trabalho Epistemologias do Sul (CLACSO)

    ● Grupo de Trabalho Afrodescendências e Propostas Contrahegemônicas (CLACSO)

    Divulgação do Congresso/Notas Periodísticas

    ● Ações Ecopoéticas na 3ª edição da Escola de Artivismos Decoloniais do Sul com o apoio da Cátedra UNESCO/UFGD. 4/12/23.
    https://catedraunesco.ufgd.edu.br/noticias/acoes-ecopoeticas-na-3-edicao-da-escola-de-artivismos-decoloniais-do-sul-com-o-apoio-da-catedra-unescoufgd

    ● Notícias UNSAM.
    https://noticias.unsam.edu.ar/evento/viii-congreso-de-estudios-poscoloniales-ix-jornadas-de-feminismo-poscolonial-el-futuro-del-fin-del-mundo-pensamientos-selvagem-memorias-y-artivismos-2/

    https://anpof.org.br/agenda/eventos/ii-coloquio-psicanalise-e-amefricanidade

    https://www.facebook.com/violenciaysociedad.ucr

    ● Nossas Redes:

    https://congresoestudiospo.wixsite.com/website

    Instagram: @jornadasfeminismoposcolonial 

    Fb: https://www.facebook.com/CongresoEstudiosPoscoloniales

  • Vitória régia

    Quantos nomes foram esquecidos ou caíram em desuso para que o inconsciente colonial perdurasse nas bases da botânica moderna?

    Partindo dessa premissa, a pesquisa sobre plantas medicinais na iconografia colonial resume a apropriação da taxonomia das plantas e constituição da botânica como campo de conhecimento hegemônico pela colonialidade. Em última instância essa apropriação, que encontra paralelo na biopirataria, invisibilizou as práticas das culturas originárias e alterou as formas de relação com a floresta e o conhecimento tradicional. Nesse sentido, em seu projeto artístico Botannica tirannica, Giselle Beiguelman chama a atenção para o colonialismo manifesto no ato de extrair espécies e nomeá-las, como corolário da subjetividade da modernidade/colonialidade diante da diversidade dos biomas brasileiros.

    Durante a pesquisa para a identidade visual do evento, por vezes cruzei com ilustrações botânicas cujas anotações no rodapé mantém uma memória dos muitos nomes que uma planta carrega, suas variações entre regiões e nomes populares, uma memória do interesse sobre a medicina ancestral e o conhecimento sobre as propriedades das plantas utilizadas para cura e práticas ritualísticas. Ao propor uma pesquisa acerca de suas classificações, Beiguelman expõe as contradições do pensamento científico moderno, cuja suposta neutralidade torna invisível a biopirataria e o racismo científico basilar para os estudos em botânica.

    Em Botannica tirannica, a autora reúne alguns espécimes cujos nomes testemunham perspectivas racistas, antissemitas, sexistas e principalmente anti-indígenas, uma vez que a colonialidade criou as condições para a apropriação do conhecimento tradicional e dos territórios dos povos originários. A vitória-régia é um desses nomes. A também chamada irupé (guarani), uapé, aguapé (tupi), aguapé-açu, jaçanã, nampé, forno-de-jaçanã, rainha-dos-lagos, milho-d’água, cará-d’água, apé, forno, forno-de-jacaré, forno-d’água, iapunaque-uaupê, iaupê-jaçanã, teve sementes extraídas da Guiana Inglesa por Robert Hermann Schomburgk, sendo descrita e nomeada como Victoria amazonica em homenagem à Rainha Victoria por John Lindey em 1837.

    Assim, a planta aquática, típica da região amazônica, passou a ser referida como Victoria Régia, desvinculada de sua função na medicina tradicional em detrimento da presença decorativa em ambientes que buscavam emular o bioma amazônico, influenciando a imagem do império britânico e a arquitetura inglesa oitocentista.

    Fontes:
    Botannica Tirannica
    Victoria regia’s bequest to modern architecture. (Nielsen, 2010)

  • Guaraná

    Waraná, guaraná-da-amazônia, guaranaina, narana, cupana, guanáyuba, varaná, paulínia, narazazeiro, guaraná-uva, naranajeiro, guaraná-cipó, naraná ou guaranaúva. Encontrada no Brasil, Peru, Colômbia, Guiana e Venezuela, é uma das plantas mais representativas da flora amazônica. Seu cultivo remonta a relatos datados da segunda metade do século XVII, que tem nos Sateré-Mawé, habitantes da região do rio Madeira- Tapajós, protagonistas da transformação de uma organização social baseada na vingança para uma que valoriza o encontro, o trabalho coletivo e do diálogo respeitoso e ponderado.

    A antropóloga Alba Lucy Giraldo Figueroa resume a importância simbólica do guaraná para os Sateré-Mawé ao narrar seu mito originário como a perda de uma criança e do luto de uma mãe que ao enterrar o olho direito do filho determina o nascimento do guaranazeiro dentre o de muitos outros seres: “ O ápice dramático se inicia com a situação de aprisionamento do filho da irmã […] e continua com a determinação de uma mulher, a sua genitora, a quem cabe o papel de realizar a transição de uma para outra ordem de coisas e relações” (FIGUEROA, 2016).

    Os agricultores da região dos Maués, referência na produção de waraná buscam a manutenção de formas responsáveis de cultivo, em disputa com as exigências de uma produção em escala muito maior; desmatamento e garimpos ilegais; e o enfraquecimento das agências de regulação ambiental.

    Após um conturbado processo de demarcação, os Sateré-Mawé colocaram em prática ao longo dos anos 1990 um projeto de autodeterminação e independência econômica que aposta na valorização de seu patrimônio material e imaterial – através de certificações de origem do guaraná, e de protocolos como o “Protocolo de produção do Pão de Waraná – denominação de Origem Protegida” o povo Sateré-Mawé administra a TI utilizando o comércio no mercado internacional como estratégia.

    O que se evidencia é o paradigma da organização social balizado pelo cultivo do guaraná, manutenção das práticas de cultivo tradicionais e de manejo regenerativo da terra e a retomada de um conhecimento lentamente expropriado pelas cadeias de produção industriais.

    Assim, falar da memória da biodiversidade brasileira é uma forma de resgate de visões de mundo e formas de relação invisibilizadas pelas maneiras como o Guaraná é transformado em ícone de brasilidade, dissociado de seu papel ontológico para os povos originários, o que também reafirma a importância das demarcações e proteção dos território indígenas.

  • Jenipapo

    O jenipapo, conhecido em tupi-guarani como “fruta que serve para pintar”, é uma espécie presente em diversos biomas brasileiros – incluindo Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Pantanal. Os frutos, raízes e casca do Jenipapeiro são frequentemente utilizados para fins medicinais, como repelente, é ingrediente de bebidas, doces, etc. A tintura obtida através da adição de carvão ao sumo oxidado do jenipapo é de extrema relevância por sua ampla utilização entre os povos indígenas, com registros de sua utilização entre os Tapajós, Kayapós, Tikunas, entre outros.

    https://www.youtube.com/watch?v=kWMHiwdbM_Q

    Talvez sua aparição mais icônica seja a intervenção realizada por Ailton Krenak, durante a Assembleia Constituinte de 1987, quando diante do congresso, o escritor subiu à tribuna e enquanto aplicava a tintura no rosto, discursou em protesto aos retrocessos nos direitos de povos indígenas, intervenção essa que influenciou a aprovação dos artigos 231 e 232 da Constituição Federal, cláusulas que visam garantir aos povos originários a proteção de suas práticas e tradições e o direito à demarcação de suas terras.

    A pintura com a tintura de jenipapo serve para proteção contra males espirituais e físicos, precedendo lutas e rituais, e é um importante aspecto da vida comunitária e organização social dos povos originários, visto que cada etnia tem maneiras distintas de transmissão de suas práticas ancestrais, incluso quem pode participar do preparo da tintura, quem pode fazer a aplicação e qual o objetivo que cada uma busca na realização da pintura corporal.

    Nesse sentido, a referência a Krenak é oportuna no que remete aos atuais conflitos relacionados à tese do Marco temporal, visto que a conservação das florestas está diretamente ligada à autonomia das comunidades indígenas e à proteção de suas práticas ancestrais.

    #nãoaomarcotemporal #arquivaPL490

  • Vence demanda

    Conhecida popularmente como vence-demanda ou abre-caminhos, a Justicia gendarussa é considerada uma planta de poder, associada a entidades religiosas de matriz africana, como os orixás Xangô e Ogum.

    De origem asiática, a espécie figura em dezenas de registros etnobotânicos na América do Sul e Central que apontam suas propriedades medicinais.

    Em seu livro, Vence-demanda: Educação e descolonização, Luiz Rufino afirma que “não basta catar folha, é preciso saber cantá-la”, em uma referência a Ossain, o senhor das matas, que conhece as palavras para acordar o axé das folhas, detém um conhecimento profundo e secreto sobre seus poderes de cura e magia. Sem o axé de Ossaim não há ritual de bater folha, logo, práticas de religiões de matriz africana não seriam possíveis.

    A referência de Rufino à vence-demanda e ao orixá e seu poder de encantamento reside na defesa de uma aprendizagem baseada em uma escuta cuidadosa, em uma prática docente que confere autonomia aos “condenados da terra”, diante da modernidade/colonialidade. Afinal, uma educação compreendida “como força de batalha e cura” para os que vivem sob o carrego colonial.

    Como indica Nilma Lino Gomes, uma de nossas conferencistas, no prefácio a obra de Rufino: “Nesse processo de acirramento das tensões em torno de projetos de vida, de sociedade e de Estado, emergem com força saberes, experiências e tecnologias ancestrais que nos mantêm de pé e vivos. É nessa confluência de forças antagônicas que a educação se realiza e os diferentes projetos de educação disputam espaço e lugar”.

    Esse é o motor que move nosso encontro de práticas e saberes estético políticos de mulheres latino-americanos e por tanto a escolha dessa planta pretende nos acompanhar com sua força ancestral.

    Assim compreendemos as práticas de artistas, filósofas e pesquisadoras, enquanto práticas epistemológicas sob o signo da força e da cura para aqueles que buscam o bem viver. A Justicia gendarussa traz consigo uma defesa dos biomas sul-americanos. Uma das muitas plantas ritualísticas cuja presença tem como sentido principal reverenciar a memória da biodiversidade e combater a monocultura estética.

    Erica Saraiva; Caroline Marim.

  • IV Edição Escola de Verão Artivismos desde o Sul Global – Práticas estético políticas de mulheres latino americanas

    A IV Escola de Verão Artivismos desde o Sul Global – Práticas estético políticas de mulheres latino americanas será realizada presencialmente entre os dias 2 e 5 de dezembro de 2024, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ. As inscrições estão abertas entre os dias 1º de agosto e 6 de outubro e podem ser realizadas através da plataforma Even3.

    Esta quarta edição revive a experiência da Escuela de Verano Artivismos desde el Sur, que já conta com três edições realizadas na Argentina com o apoio da Cátedra UNESCO/UFGDS, da SudArt — plataforma experimental que reúne projetos de artistas pelo mundo, visando expandir o poder dos laços culturais e políticos Sul-Sul — e que nesta edição será realizada com apoio do Museu Hélio Oiticica, CAPES e do IFCS/UFRJ. Com uma programação centrada nas práticas estético-políticas, a primeira edição brasileira pretende expandir o debate sobre (re)sistências e os artivismos para aprofundar o papel do Brasil dentro do profícuo cenário de alianças interdisciplinares teórico-práticas que têm movido os feminismos decoloniais nos países latino-americanos.

    Com a proposta de pensar a relação entre corpos, territórios, feminismos e suas práticas metodológicas estético-políticas em tempos e espaços de (re)sistências latino-americanos, a Escola de Verão pretende formar, junto a pesquisadoras, ativistas, artivistas feministas, dissidentes sexuais e afrodiaspóricos com comunidades locais, uma Plataforma de Comunidades sobre Futuridades — Community Futurities Platform — para explorar línguas alternativas e agir contra a colonialidade, o racismo e a ferida colonial, a partir de futuridades que possibilitem a emergência e amplificação das vozes do Sul desde o Sul. 

    A programação da IV Edição Escola de Verão Artivismos desde o Sul Global é composta por conferências, mesas, oficinas, exposições e debates que correlacionam o conceito de Artivismos — ficções futuristas ou ecologias das práticas que visam descolonizar o tempo linear e universal das narrativas históricas, transformando-as em tempos próprios enraizados na experiências perceptivas. As oficinas serão orientadas pelos seguintes eixos temáticos: (1) Corpo-Território-Feminismos; (2) Práticas e metodologias estético políticas de mulheres latino americanas; (3) Corpos-Território-Tempo-Espaço: práticas de luta e (re)existência à domesticação.

    Para apoiar as oficineiras no diálogo com as/os participantes, será disponibilizado um acervo virtual composto por filmes e bibliografias acadêmicas, artísticas e artivistas, através da Plataforma Google Sala de Aula. Ao final do evento, a equipe SudART e a equipe docente brasileira realizarão, conjuntamente às convidadas e participantes, um debate sobre o resultado das exposições das oficinas, de modo a propiciar reflexões e críticas acerca dos trabalhos realizados.

    Data de realização do evento: 2 à 6 de dezembro de 2024
    Local de realização: IFCS/UFRJ
    Comissão Organizadora : Susana de Castro, Karina Bidaseca e Caroline Marim
    Comissão Técnico Científica: Cristina T. Ribas (UFF), Flavia Meireles (CEFET/RJ), Losandro Tedeschi (UFGD), Catia Paranhos Martins (UFGD).

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