Conhecida popularmente como vence-demanda ou abre-caminhos, a Justicia gendarussa é considerada uma planta de poder, associada a entidades religiosas de matriz africana, como os orixás Xangô e Ogum.
De origem asiática, a espécie figura em dezenas de registros etnobotânicos na América do Sul e Central que apontam suas propriedades medicinais.
Em seu livro, Vence-demanda: Educação e descolonização, Luiz Rufino afirma que “não basta catar folha, é preciso saber cantá-la”, em uma referência a Ossain, o senhor das matas, que conhece as palavras para acordar o axé das folhas, detém um conhecimento profundo e secreto sobre seus poderes de cura e magia. Sem o axé de Ossaim não há ritual de bater folha, logo, práticas de religiões de matriz africana não seriam possíveis.
A referência de Rufino à vence-demanda e ao orixá e seu poder de encantamento reside na defesa de uma aprendizagem baseada em uma escuta cuidadosa, em uma prática docente que confere autonomia aos “condenados da terra”, diante da modernidade/colonialidade. Afinal, uma educação compreendida “como força de batalha e cura” para os que vivem sob o carrego colonial.
Como indica Nilma Lino Gomes, uma de nossas conferencistas, no prefácio a obra de Rufino: “Nesse processo de acirramento das tensões em torno de projetos de vida, de sociedade e de Estado, emergem com força saberes, experiências e tecnologias ancestrais que nos mantêm de pé e vivos. É nessa confluência de forças antagônicas que a educação se realiza e os diferentes projetos de educação disputam espaço e lugar”.
Esse é o motor que move nosso encontro de práticas e saberes estético políticos de mulheres latino-americanos e por tanto a escolha dessa planta pretende nos acompanhar com sua força ancestral.
Assim compreendemos as práticas de artistas, filósofas e pesquisadoras, enquanto práticas epistemológicas sob o signo da força e da cura para aqueles que buscam o bem viver. A Justicia gendarussa traz consigo uma defesa dos biomas sul-americanos. Uma das muitas plantas ritualísticas cuja presença tem como sentido principal reverenciar a memória da biodiversidade e combater a monocultura estética.
Erica Saraiva; Caroline Marim.

